quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

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Gosto do que este Hugo escreve, principalmente quando escreve sobre o Rio. Tenha muita inveja de, apesar de sentir, não conseguir falar assim do meu Rio.

Manual de paquera
por Hugo Gonçalves, Publicado no Jornal i, em 06 de Janeiro de 2011

"Não conheço o rapaz moreno mas sento-me na areia para apreciar a sua aula de sedução de praia. Reparou nas duas miúdas sentadas debaixo de um chapéu-de-sol vermelho. Sabe que elas o olham protegidas pelos óculos escuros. Fica em pé, de costas para elas, até que vê um providenciador de coisas ilegais com cabelo de índio, pele curtida de sela de cavalo e um pé incompleto. O índio apresenta-se mostrando as costas da mão escritas com um marcador: The Show Man. Passa-lhe um papel (com erva lá dentro) e convida-o para fumar um charro. O rapaz entrega uma nota de 50 reais. Dá uma passa e olha para as miúdas, que sorriem como se estivessem num corredor de liceu. Ele diz: "Vocês são cariocas?" Uma é ruiva com cabelo encaracolado e sardas incendiárias. Outra é esguia como uma modelo nos anos 80 e tem boca de beijo bom na boca. Ele fala, elas riem e quando passa um vendedor de cangas ele diz: "Escolham uma para mim." Começa a chover e preparo-me para sair da praia, imaginando que daqui a nada estarão tomando um chopp e ele terá de escolher uma delas (vai ser escolhido). Talvez dancem na Lapa e lambam o sal da pele numa viagem de táxi. Penso na trilogia da malandragem: "Malandro não ama, malandro sente desejo. Malandro não conversa, malandro desenrola uma ideia. Malandro não pára, malandro dá um tempo." Mas depois olho para o rapaz e percebo que sente o mesmo que um cavalo de corrida e talvez seja um desses derradeiros românticos que ainda acreditam que só uma mulher o pode salvar de si mesmo, ou seja, "Malandro vira otário quando ama."

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