quinta-feira, 28 de julho de 2016

Infinita ilusão

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Foi ontem o concerto tão esperado em que a Marisa Monte, de volta a Portugal, convidava a fadista Carminho para o seu concerto no idílico palco dos Jardins do Marquês de Pombal em Oeiras. Já perdi a conta às vezes que vi Marisa Monte, acho que só falhei um concerto desde que ela começou a vir a Portugal mas não me farto nem nunca me vou fartar de a ver e ouvir. Lembro-me de todos mas lembro-me especialmente de dois, o da tournée "Barulhinho Bom" com o Coliseu dos Recreios à pinha, muito além da lotação, como era habitual antes das cadeiras da geral, onde ela caiu do palco a dançar, subiu rapidamente, contionuou a música até ao fim e no final pediu desculpa e disse, "acontece".
O outro foi o magnífico show da tournée, "Memórias, crónicas e declarações de amor", vi duas vezes esse concerto. Concerto irrepreensível! Banda incrível, os arranjos das canções primorosos, uma energia extraordinária comungada por todos os músicos e que passou, espontânea e organicamente, para todo público na plateia.
Este foi especial por promover esta comunhão cultural de dois países que falam a mesma língua e partilham muitos aspetos sociais e culturais e que, por isso, deveria ser algo muito nartural mas que, infelizmente, continua a ser tão raro. Mesmo assim, este novo fôlego do fado levou a cultura portuguesa ao Brasil e encantou novamente uma elite cultural que tem, altruística e até carinhosamente, divulgado, promovido e popularizado esta nova geração de artistas lusos.
Foi bonito, muito bonito mesmo, apesar do frio de uma noite de Verão, do vento que prejudicava o som, da voz da Marisa não estar nos melhores dias e até do pouco à vontade da Carminho que, há poucos anos atrás, nem sequer sonhava algum dia poder cantar com álguém que deve ter começado a admirar muito cedo.
Mesmo assim foi lindo e um dos momentos altos foi quando partilharam o fado, "Saudades do Brasil em Portugal", poema que foi escrito pelo Vinícius de Moraes numa das suas passagens por Lisboa a caminho de Roma e que o ofereceu à Amália Rodrigues. Eu juro que, nesse momento, eu ouvi e senti a cuíca e a guitarra a chorarem de emoção numa harmonia notável e comovente. Bastava isso para valer a pena mas houve muito mais coisas que vão ficar na memória e nas emoções de quem lá esteve. Muito provavelmente não se editará nenhum registo deste momento, o que é pena mas, para quem lá esteve e que fez questão de não arredar pé enquanto se percebesse que elas ainda poderiam voltar ao palco, com certeza quer não irão esquecer esta noite. Saudades, desde já.





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