quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O primeiro Grammy português

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É hoje que o fadista Carlos do Carmo recebe o primeiro Grammy entregue a um artista português. Não quero, de nenhuma maneira, diminuir e desvalorizar este feito apesar de achar que outros já o tivessem também merecido. Para mim, este reconhecimento tem ainda mais valor por isso, porque representa o reconhecimento não só da carreira individual fantástica do Carlos do Carmo mas também deposita nele e neste reconhecimento uma homenagem a todos os outros que não tiveram oportunidaee de ganhar a mesma distinção.
É uma homenagem também ao fado e a Lisboa pois estas são duas dimensões que se confundem naturalmente com o artista como se não exitissem umas sem as outras.
Por isso escolho o tema "Um homem na cidade" com um poema maravilhosos de mais uma personagem do fado e de Lisboa, Ary dos santos e música de José Luis Tinoco, um compositor marcante da música portuguesa dos últimos 40 anos.
Junto também uma homenagem muito bonita que a Rádio Comercial fez juntando diversos cantores para interpretar outra homenajem do Carlos do carmo à sua e nossa Lisboa, um tesouro inestimável.



"Agarro a madrugada
como se fosse uma criança,
uma roseira entrelaçada,
uma videira de esperança.
Tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem, por força da vontade,
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua desta lua
que no meu Tejo acendo cedo,
vou por Lisboa, maré nua
que desagua no Rossio.
Eu sou o homem da cidade
que manhã cedo acorda e canta,
e, por amar a liberdade,
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresce na vela da canoa.
Sou a gaivota que derrota
tudo o mau tempo no mar alto.
Eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada,
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada,
um malmequer azul na cor,
o malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém,
o malmequer desta cidade
que me quer bem, que me quer bem.
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também,
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem,
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem."
Um homem na cidade - Carlos do Carmo



"No castelo ponho o cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar
À Ribeira encosto a cabeça
A almofada da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo
Refrão:
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios sãos as colinas, varina
Pregão que me traz à porta ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade amor da minha vida
No Terreiro eu passo por ti
Mas na Graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
A aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar
Refrão:
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios sãos as colinas, varina
Pregão que me traz à porta ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade mulher da minha vida
Lisboa do amor deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça e amada
Cidade mulher da minha vida"
Lisboa menina e Moça - Carlos do Carmo

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