"Next Year, Things are gonna change, Gonna drink less beer And start all over again Gonna pull up my socks Gonna clean my shower Not gonna live by the clock But get up at a decent hour Gonna read more books Gonna keep up with the news Gonna learn how to cook And spend less money on shoes Pay my bills on time File my mail away, everyday Only drink the finest wine And call my Gran every Sunday Resolutions Well Baby they come and go Will I do any of these things? The answer's probably no But if there's one thing, I must do, Despite my greatest fears I'm gonna say to you How I've felt all of these years Next Year, Next Year, Next Year I gonna tell you, how I feel Well, resolutions Baby they come and go Will I do any of these things? The answer's probably no But if there's one thing, I must do, Despite my greatest fears I'm gonna say to you How I've felt all of these years" Next year baby - Jamie Cullum
"Pra você guardei o amor Que nunca soube dar O amor que tive e vi sem me deixar Sentir sem conseguir provar Sem entregar E repartir
Pra você guardei o amor Que sempre quis mostrar O amor que vive em mim vem visitar Sorrir, vem colorir solar Vem esquentar E permitir
Quem acolher o que ele tem e traz Quem entender o que ele diz No giz do gesto o jeito pronto Do piscar dos cílios Que o convite do silêncio Exibe em cada olhar
Guardei Sem ter porque Nem por razão Ou coisa outra qualquer Além de não saber como fazer Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei Vendo em você E explicação Nenhuma isso requer Se o coração bater forte e arder No fogo o gelo vai queimar
Pra você guardei o amor Que aprendi vendo meus pais O amor que tive e recebi E hoje posso dar livre e feliz Céu cheiro e ar na cor que arco-íris Risca ao levitar
Vou nascer de novo Lápis, edifício, tevere, ponte Desenhar no seu quadril Meus lábios beijam signos feito sinos Trilho a infância, terço o berço Do seu lar" Pra você guardei o amor - Nando Reis e Ana Cañas
Linda voz, músicas bonitas, belas interpretações, valeu Sof.
"Não adianta um carinho todo dia Só acedita que te ama se jurar Não adianta encher a cara de alegria A dose certa sempre tem q derramar
Não basta ganhar de um a zero Por que seu time sempre tem q golear? Não basta ser feliz e brasileiro Tem que ter jogo de cintura e sambar
Acha pouco ter o Rio de Janeiro Acha que o sol nunca pode descansar Acha pouco ter um pouco de dinhehiro O seu barato e ter o mundo pra comprar" Mais - Alexia Bomtempo
Música original de João Bosco e letra de Aldir Blanc mas adoro esta interpretação do Caetano Veloso e da banda, é incrível o poder de reinvenção que ele demonstra constantemente. Faz parte do seu novo trabalho "Zii e Zie", lançado em 2009. O seu show no Coliseu do Recreios foi um dos momentos de 2010.
"Dotô, jogava o Flamengo, eu queria escutar. Chegou, Mudou de estação, começou a cantar. Tem mais, Um cisco no olho, ela em vez de assoprar, Sem dó, Falou que por ela eu podia cegar.
Se eu dou, Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar, Bastou, Durante dez noites me faz jejuar Levou, As minhas cuecas pro bruxo rezar. Coou, Meu café na calçola pra me segurar
Se eu tô Devendo dinheiro e vem um me cobrar Dotô, A peste abre a porta e ainda manda sentar Depois, Se eu mudo de emprego que é prá melhorar Vê só, Convida a mãe dela pra ir morar lá
Dotô, Se eu peço feijão ela deixa salgar Calor, Mas veste casaco pra me atazanar E ontem, Sonhando comigo mandou eu jogar No burro, E deu na cabeça a centena e o milhar
Quero me separar" Incompatibilidade de gênios - João Bosco interp. por Caetano Veloso
"Se você quer grilo, tem se quiser rio, tem e se quiser também até cabana tem uma lareira, tem um violão também um passarinho, tem mas se você quiser morar na praia, vem um automóvel, tem cabeleireiro, tem e vira a gente bem Copacabana, tem biriba à noite, tem e quando a Lua vem jantar no iate, bem eu faço o que você quiser se você for minha até morrer mulher...
Bem, eu faço o que você quiser se você for minha até morrer mulher..." Os grilos - Marcos Valle Duas grandes interpretações, original de Marcos Valle e Marcela Mangabeira.
"Graças a Deus, Minha vida mudou, Quem me viu,quem me vê, A tristeza acabou.
Contigo aprendi a sorrir, Escondeste o pranto, De quem sofreu tanto, Organizaste uma festa em mim, E por isso eu canto Assim" Minha festa - Nelson Cavaquinho interp. por Nina Becker
"Sei que amanhã Quando eu morrer Os meus amigos vão dizer Que eu tinha um bom coração Alguns até hão de chorar E querer me homenagear Fazendo de ouro um violão Mas depois que o tempo passar Sei que ninguém vai se lembrar Que eu fui embora Por isso é que eu penso assim Se alguém quiser fazer por mim Que faça agora.
Me dê as flores em vida O carinho, a mão amiga, Para aliviar meus dias. Depois que eu me chamar saudade Não preciso de vaidade Quero preces e nada mais" Quando eu me chamar saudade - Nelson Cavaquinho interp. por Nina Becker
Heitor Alves, surfista brasileiro, cearense, que ganhou a etapa da Figueira da Foz do WQS deste ano. Foto do jornal i de hoje na reportagem "Dammed brazilians"
"Teus olhos abrem pra mim Todos os encantos Teus olhos abrem pra mim
Teus olhos abrem pra mim Todos os encantos bons Tudo que se quer vai lá
Eu vi na terra Você chegando assim Assim, de um jeito tão sereno
Ai, ai, meu Deus do céu Eu vivo sem pensar Se sou só
Acho que não vou mais Agora tudo tanto faz, meu bem Eu vi você passar levando meu encanto
Caminho sem saber de mim Eu vivo sem pensar Se sou só Ou sou mar
Mas eu conto com você Pois enquanto eu não me resolver Eu vou lá, eu vou lá Mas enquanto eu não me resolver Eu vou lá, eu vou lá" Teus Olhos - Ivete Sangalo e Marcelo Camelo
Linda voz, música simples mas e tranquila. Alexia Bomtempo é filha de uma cantora e compositora norte-americana e de um brasileiro, mora em Ipanema, apesar de ter nascido e ter sido criada nos states e tem um disco editado, "Astrolábio", produzido por Dadi, que já trabalhou com Caetano e Marisa Monte. Alexia faz também parte do projecto Doces Cariocas com Pierre Ardene, também ele fruto de uma mistura curiosa pois nasceu em Toulouse, filho de mãe brasileira e pai português. "A vida é azul A pérola, negra Djavan é lilás Prince é púrpura Carlinhos é brown O Barão é vermelho Caetano é camaleão Beatles é branco submarino amarelo A Inglaterra é cinza Arco-íris é gay A Barbie é rosa A rosa é vermelha A tangerina é laranja A laranja, amarela A maçã é vermelha E branca quando se morde ela
Amarelinha é brincadeira Verde e rosa é Mangueira Vermelho e brnaco é Salgueiro Preto com branco dá brasileiro"
"Saber que duas incompatibilidades são,na realidade,duas velocidades diferentes já facilita muita coisa.É uma questão concreta,nada pessoal.O problema é que por não sabermos disso estamos sempre julgando,tomando o efeito pela causa,e acusando o outro.Acusando o veneno sem saber,que para o veneno,voce também foi veneno" - Auterives Maciel
"Rapte-me camaleoa Adapte-me a uma cama boa Capte-me uma mensagem à-toa De um quasar pulsando lower Interestelar canoa Leitos perfeitos Seus peitos direitos me olham assim Fino menino me inclino pro lado do sim
Rapte-me, adapte-me, capte-me It's up to me Coração Ser querer, ser merecer, ser um camaleão Rapte-me camaleoa Adapte-me ao seu Ne me quitte pas" Rapte-me Camaleoa - Caetano Veloso com Maria Gadu
Duas crónicas do Jornal i da Mónica Marques e do Hugo Gonçalves. Quem me conhece sabe que eu não poderia concordar mais com os dois e que, apesar da inquietante inveja, dá prazer sentir este prazer.
Não há pecado abaixo do equador por Mónica Marques, Publicado em 13 de Dezembro de 2010, jornal i Há um ano ou dois resolvi chatear-me com o Velho Mundo: Com os museus, as bibliotecas, as universidades e as discotecas cheias de jovens chatos e vegetarianos, nada diletantes. E manicures suburbanas, e universitárias iletradas e confusas por não serem meninas bem de dicção afectada, maravilhosa e irritante ao mesmo tempo. E de sindicalistas de meia-tigela e filósofos barbudos de 35 anos, que frequentam jardins gelados para se porem a pensar, a pensar. Há um ano ou dois que sou feliz longe disso. Só com o pãozinho francês do Talho Capixaba, o sol escaldante dos dias quentes do Rio de Janeiro, onde os políticos são ladrões, mas não de meia-tigela, os facínoras são facínoras, o feijão é preto, a maconha dá tesão, a chuva cai direita, o Fluminense é campeão para regozijo meu e do Nelson Rodrigues e o Ferreira Gullar diz, naquele seu riso tão característico e nas tintas para o tempo, que não quer ter razão, só quer é ser feliz.
Final de semana carioca por Hugo Gonçalves, Publicado em 14 de Dezembro de 2010, jornal i É tudo muito rápido e assim que chegas já estás utilizando o gerúndio sem te dares conta e entre a casa e a praia já bebeste um chopp e há uma agitação de vendedores ambulantes, vapores de gasolina, um machete decapitando um coco com água de gelar o céu-da- -boca. Depois há cervejas na praia, o cheiro da maconha fumada por rapazes que não usam sunga e que talvez tenham profissões artísticas e se desloquem em bicicletas. Em seguida estás num lugar com mais gente e é de noite e os morros iluminados ficam mais bonitos por causa das lentes da cachaça e o teu amigo diz-te, numa festa no Centro, que nunca pensou que as brasileiras fossem tão altas. Dormes pouco e acordas cedo porque a ventoinha no tecto produz um barulhinho bom, mas não refresca. Sais para a praia e no final do dia, num terraço onde se viam urubus planando sobre os prédios, tiveste a certeza que a combinação cachaça & chopp é remédio para a felicidade. No dia seguinte: praia, feijoada, cerveja e cachaça até que a noite apareceu e no Rio podes entrar no mar sem a histeria de um sequestro. É tudo muito rápido, os dias têm a mesma intensidade das semanas em que foste feliz e a presença constante de uma suspeita: mudar de vida é mais fácil do que parece. Porque estás num lugar tão esplendorosamente novo percebes que aqui só um masoquista ficaria deprimido. Talvez não haja nenhuma lição a tirar destes dias que parecem música. Mas quando caminhas para a praia e um dos quiosques passa "Beija eu", de Marisa Monte, sabes que viver com música também é remédio gostoso para a felicidade.
"Seja eu, Seja eu, Deixa que eu seja eu. E aceita O que seja seu. Então deita e aceita eu.
Molha eu, Seca eu, Deixa que eu seja o céu E receba O que seja seu. Anoiteça e amanheça eu.
Beija eu, Beija eu, Beija eu, me beija. Deixa O que seja ser
Então beba e receba Meu corpo no seu corpo, Eu no meu corpo, Deixa, Eu me deixo Anoiteça e amanheça" Beija Eu - Marisa Monte
...deixa que eu seja o céu e receba, o que seja seu...
"Você não merece sofrer Merece samba Os olhos são portas saídas de um coração Então você pode chorar Do novo o amor chegará Encantado, encarnado, esculpido pelo mar
Você não merece ilusão Merece beijos Um jeito, um fato novo, um salto, um solar Pra que visitar solidão Na borda infinita de um copo de bar Se eu posso fazer o que posso Lhe fazer sonhar
Eram uma banda única que trouxe uma nova dimensão à música portuguesa, não gosto de tudo mas há muitas coisas que gosto muito e, acima de tudo, os Da Weasel eram brutais ao vivo. Acabaram mas vamos continuar a desfrutar do talento dos seus elementos, com certeza. Esta faz parte da meu top dos top's.
"(...) Tento ter a força pra levar o que é meu Sei que às vezes vai também um pouco de nós Devo concordar que às vezes falta-nos a razão Mas nem no que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta, eu acredito em ti Estar contigo é estar com o que julgas melhor Nunca vamos ter o amor a rir para nós Como queremos nós ter um sorriso maior (...)" Casa (Vem fazer de conta) - Da Weasel c/ Manel Cruz
Apesar de não ser o Flamengo, o facto de o Fluminense se ter sagrado hoje campeão brasileiro tem alguns factos especiais. O Brasileirão ficar dois anos seguidos em clubes do Rio de Janeiro é uma coisa rara há muitos anos e, por outro lado, deve ser inédito haver um campeão que é português, apesar de brasileiro de nascença, Deco. Ano tricolor depois de na época passada ter corrido o risco de baixar até à última jornada, o Flamengo, em contrapartida, depois de ter sido campeão, ficou no 14º lugar.
Depois de um almoço de salsichas com couve de lombarda em família nada como a casa quente e um belo sofá para enfrentar este dia cinzento e muito molhado.
Aqui fica uma música para o filme "Sonhos Roubados", Linda!
O filme é inspirado no livro "As Meninas da Esquina", de Eliane Trindade e foi bastante apreciado no Festival do Rio de 2009. Mais um retrato cru daquela cidade.
Esta semana no Rio e aqui alguns excertos de uma entrevista conjunta, para quem, como eu, não vai estar e vai estar ansiosamente esperando por um registo deste encontro. DVD já!
DVD da Rita Lee que tem este momento perfeito dedicado ao Rio de Janeiro.
"Vento do mar no meu rosto e um sol a queimar... Queimar! Calçada cheia de gente a passar e me ver... Passar!
Rio de Janeiro, gosto de você! Gosto de quem gosta, desse céu esse mar, essa gente feliz!
Bem que eu quis escrever um poema de amor... O amor! Estava em tudo o que eu quis, em tudo o quanto eu sonhei! Mas no poema que eu fiz tinha alguém mais feliz... Que eu! O meu amor! Que não me quis!" Valsa de uma cidade
Samba Enredo da Estação Primeira no Carnaval de 1994. Uma homenagem linda aos Doces Bárbaros, Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil, letra linda que consegue referenciar algumas das grandes músicas de cada um deles e fazer uma resenha dos seus percursos até aí. Belo momento esse , coroado pela presença dos quatro no desfile. Nesse ano, a campeã foi a Imperatriz Leopoldinense e a Mangueira ficou num incrível 12º lugar (!) mas o samba enredo ficou eternizado e ainda hoje é cantado nos bloco de Carnaval do Rio de Janeiro e é considerado por parte da crítica como um dos mais empolgantes da década. A versão do Caetano, no álbum Prenda Minha é fantástica, tal como a interpretada pelo Jamelão ou a que é interpretada pelos 4. Fiquei chocado com as notícias e as imagens que me surpreenderam totalmente no sábado, quando regressei a Portugal. Por isso, não podia deixar de marcar este momento difícil com um humilde voto de alegria e felicidade para aquela cidade que eu amo tanto. Andei a semana toda a ouvir esta música, não sabendo o que se estava a passar, parecia que estava a adivinhar. "Me leva que eu vou sonho meu atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu bahia é luz de poeta ao luar misticismo de um povo salve todos orixás quem me mandou estrelas de lá foi são salvador pra noite brilhar mangueira! jogando flores pelo mar se encantou com a musa que a bahia dá obá, berimbau, ganzá ô, capoeira joga um verso pra iaiá caetano e gil, ô com a tropicália no olhar doces bárbaros ensinando a brisa a bailar a meiguice de uma voz uma canção no teatro opinião bethânia explode coração domingo no parque, amor alegria, alegria, eu vou a flor na festa do interior seu nome é gal aplausos ao cancioneiro é carnaval, é rio de janeiro" Atrás Da Verde-e-rosa Só Não Vai Quem Já Morreu
Amarga injustiça anular uma obra prima destas! É de antologia.
E, mesmo a feijões, grande cabazada ao Campeão da Europa e do Mundo. É verdadeiramente impressionante ver como, em tão pouco tempo, uma equipa se transfigurou completamente. Parece que foi uma bela exibição ou mesmo, "Que Cornada", como nuestros hermanos disseram hoje de manhã.
Esta frase demonstra bem o meu lado de admirador do Rui Veloso, além de ser uma frase que tem muito a ver comigo e que me emociona sempre que ouço.
O Rui (se ele me permitir tratá-lo assim) foi um dos primeiros músicos que eu admirei de uma forma completa, pela sua personalidade e atitude e pelo o estilo de música que me fez gostar de praticamente tudo o que fez até hoje. Mesmo nos discos mais recentes, apesar de já não gostar de tudo, encontro sempre, pelo menos uma música que me leva aqueles longíquos anos 80 e 90 em que tudo o que o Rui fazia era sagrado. O facto de não gostar de tudo não tem só a ver com o facto do brilhantismo já não ser o mesmo mas também porque a sua música, mesmo que continuasse a ser brilhante, já não teria a mesma saliência que teve no momento em que apareceu e se consolidou. Temos acesso e há muito mais leque de escolha e os tempos passam e eu ainda sou daqueles que associo as músicas a momentos e a pessoas. Por isso, por mais contemporânea que seja a música do Rui, felizmente está muito mais associada a gratas recordações de tempos que já lá vão.
Esta minha admiração teve razões circunstanciais para ser alimentada, felizmente o Rui é português e, além de ser difundido nas nossas rádios com frequência, fazia concertos com frequência perto de Lisboa. Foram várias as excursões ao Coliseu e lembro-me especialmente de dois concertos gratuitos onde fui, um na Amadora e outro na Alameda D. Afonso Henriques, junto à Fonte Luminosa, onde ele, no final, me autografou muito efusivamente um bilhete, já aí antigo, de um concerto épico no famoso Coliseu e que ainda guardo.
Lembro-me da loucura que foi o álbum Rui Veloso, que me deram num Natal em cassete e que eu escutei ininterruptamente por muito tempo, gingando com o "Negro do Rádio de Pilhas", swingando com a Beirã, sofrendo com o "Cavaleiro Andante" e com ò "Directo à Cabeça", desejando sofregadamente conhecer "Porto Côvo" e penitenciando-me incondicionalmente por não possuir o sentimento nortenho que o Rui e o Carlos Tê demonstram no "Porto Sentido" e naquele final ao vivo em que o Rui acentuava o sotaque e acabava com um initerrupto "naiasa".
Eram os tempos em que se podiam ouvir os concertos em directo na Antena 1 e que, numa das raras ausências, tive oportunidade de gravar integralmente mais uma bela prestação que ficou eternizada numa cassete que uma amiga, uns tempos depois, fez a gentileza de a perder. É óbvio e claro que deixou de ser amiga nesse exacto momento, a sério!
Qualquer concerto Rui Veloso era épico, com 358 encores e em cada um, ele aparecia com o mesmo entusiasmo e, se dependesse só dele, estaria ali toda a noite. Lembro-me especialmente de um em que ele apresenta, em primeira mão, o "Fado do Ladrão Enamorado" e recupera uma música que ele tinha composto para um festival da canção (interpretada pela Né Ladeiras, acho eu) e que hoje é uma das suas músicas mais marcantes "Jura".
Foram os tempos e, devido ao álbum "Rui Veloso", que, confesso, descobri as pérolas dos álbuns antigos. Conhecia as mais difundidas, o "Chico Fininho" que nunca achei grande piada, achava piada à "Rapariguinha do Shopping", à " Ai quem me dera a mim rolar contigo no Palheiro" e à "Miúda (Fora De Mim)", amava e amo a "Sei de uma Camponesa", mas do álbum "Ar de Rock", há grandes músicas, ainda hoje, o "Bairro do Oriente", a "Afurada" e a incrível "Saíu para a Rua" que tinha aquele magnífico final "A humidade quente da Loucura" que foi, durante muito tempo, jingle de promoção de um programa de rádio. Grande álbum, uma obra de interesse nacional.
A seguir a este, veio o "Fora de Moda" e o "Guardador de Margens". Mais uma vez grandes músicas e grandes poemas desta dupla, "Balada Da Fiandeira", "Sayago Blues" (sempre um grande momento nos concertos) e "A Gente não lê", do primeiro e a "Elegia Sanjoanina" (adoro e o meu amigo Manuel Lourenço cantava-a quase tão bem como o Rui), o "Guardador de Margens" e a brilhante "Ilha", um dos mais belos poemas do Tê (desculpe o abuso Sr. Carlos Monteiro da Cedofeita como o Gaudêncio, carinhosamente o tratava nos concertos).
Foi o Rui, também, que me levou para os blues e o que eu vibrei quando ele tocou com o B.B. King, outro raro momento de ausência mas que ficou documentado numa VHS, claro.
Depois veio esse sucesso estrondoso, que o colocou definitivamente no mainstream e que se chamava "Mingos & Os Samurais" a tão falada aventura de uma banda de salões dançantes e que é o principal motivo dos seus concertos de comemoração dos trinta anos. Além dos sucessos indiscutíveis que aprecio mas que prefiro guardar nas recordações e não os ouço há muito tempo, gsotava muito de alguns menos badalados, o "No dia em que o Meno Rock morreu", o "Um Trolha d'Areosa", a "Conceição", a "Morena de Azul", o bem disposto "Psicadélico Desesperado" e o terno "No Extremo do Salão" que tinha uma letra deliciosa, especialmente o início:
"Trocamos um olhar vago
Nos extremos do salão
E um fósforo riscou
Na sola do meu coração
E a chama até queimou
Num olhar mais penetrante
Mas nada em mim avançou
Sou do tipo hesitante"
Identificava-me tanto na minha imberbe juventude plena de timidez, latente nos bailes e nas festas que frequentava.
A seguir veio o álbum de comemoração dos descobrimentos portugueses, mais uma estória contada em canções, acto árduo e muito complicado, na minha opinião mas que tinha mais 4 grandes músicas, pelo menos, "Lançado", "Nativa", "Praia da Lágrimas" e o emocionante "Logo que passe a Monção".
Existem muito mais músicas do Rui que amo, como "Inesperadamente", que ele fez para a Luz Casal, "Não queiras saber de mim", a "Canção de Alterne" que ele canta com a Nancy Vieira (e que se podem encontrar aqui no blog), sem esquecer, claro, o "Primeiro Beijo". Não me posso ainda esquecer algumas outras que marcaram outras fases do Rui, como o terno "Não me mintas" da banda sonora do filme "Jaime", o "Já não há canções de amor" e o "Nunca me esqueci de ti". Mas, de facto, aqueles primeiros álbuns são intemporais e, ainda hoje tenho um grande prazer ouvi-los.
Amanhã, o Coliseu vai estar cheio para o receber e vou estar cheio de felicidade para o ouvir, com um grande grupo de amigos que, partilha comigo, há mais ou menos anos, esta "Paixão... (Segundo Nicolau da Viola)".
"Bem sabes que a memória é um atributo dos génios"
A Sra. Coldplay, ou antes, a Mrs. Gwyneth Paltrow, a aventurar-se na música, ainda por cima numa aventura country. Apesar do country não ser, definitivamente, a minha praia, não está nada mal, não senhor.
Caetano Veloso e Maria Gadú estão a fazer shows juntos, começaram na Bahia e ainda este mês vão estar no interior de São Paulo, como atração do Festival SP On Live, em Bauru. Nos dias 24 e 26 vão estar em São Paulo e Belo Horizonte, respectivamente. E em dezembro, no encerramento da turnê, os shows acontecem no Rio de Janeiro e em Recife. E que tal Lisboa?
Inscrevi-me para a Maratona de Estocolmo do próximo ano. A primeira maratona da minha vida e depois de sempre ter dito que nunca iria fazer uma pois já me custa imenso as provas com distâncias menores. Será, mais uma vez, um desafio pessoal e mais uma maluqueira a enfrentar mas com um pequeno pormenor bastante intelegente e curioso, fornecem um t-shirt, com a inscrição, que formaliza que se está a treinar para a Maratona de Estocolmo. Vou ter de dar muito uso à minha.
São poucas as oportunidades de desfrutar de um grande performer, entretainer e cantor, acompanhado por uma orquestra jazz à séria e assistir a muitos momentos únicos ao som de standards de jazz ou do mais puro pop, sem haver choque absolutamente nenhum. Nunca vi o Pavilhão Atlântico assim (e já vi lá os Pearl Jam!).
"I've been so many places in my life and time I've sung a lot of songs, I've made some bad rhyme I've acted out my life in stages with ten thousand people watching But we're alone now and I'm singing this song for you I know your image of me is what I hope to be, I've treated you unkindly But girl can't you see, there's no one more important to me So darling can't you please see through me, 'cause we're alone now And I'm singing my song for you, you taught me precious secrets The truth with holding nothing, you came out in front And I was hiding, oh, but now I'm so much better, So if my words don't come together, listen to the melody 'Cause my love is in there hiding I love you in a place where there is no space or time, I love you for my life You are a friend of mine, and when my life is over Remember, remember, remember when we were together And we are alone now, and I was singing this song to you We were alone, and I was singing, yeah singing We were alone, and I was singing this song for you Singing my song, I'm singing my song for you" Song for you - Michael Bublé (original dos anos 70 da autoria de Leon Russel)
Na mesma semana, também Maradona comemorou o seu aniversário, 50 anos do futebolista que, de facto, marcou a minha geração, quando ainda sonhávamos ser jogadores famosos e, apesar de argentino, também merece a homenagem :). Aquele golo no Mundial de 86 vai ficar como um dos melhores golos da história do fuetebol. Agora só fica a faltar falar do meu Eusébio.
Os Nação Zumbi são uns músicos incríveis e oferecem uma nova sonoridade mais crua e rockeira aos temas do grande Seu Jorge que continua inspirado e em forma. Seu Jorge e Almaz é de facto um projecto ninja.
Everybody loves the sunshine é a música apropriada para fazer esquecer esta chuva ininterrupta que nos brindou neste fim de semana.
Principalmente num dia em que às 9 da manhã já parecia ser 6 da tarde e, ao que tudo indica, vai ter chuva e vai manter a chuva para o fim de semana, nada como olhar para paisagens inspiradoras no distante Panamá. As senhoras que aparecem nas paisagens não são mais do que um ligeiro artifício da realização para nos tentar desviar a atenção.
Curioso, callhar na mesma semana o aniversário de dois dos maiores futebolistas de todos os tempos. Pelé fez 70 anos no dia 23 e Garrincha faria hoje 77 anos.
Belo show do novo talento do samba, Diogo Nogueira, hoje no Estoril. Deu para amenizar ligeiramente os sintomas de saudade graças ao samba, alguns do "velho" como ele diz, falando do pai, o grande João Nogueira. Não deu para aguentar sentado muito tempo.
"Não, ninguém faz samba só porque prefere Força nenhuma no mundo interfere Sobre o poder da criação Não, não precisa se estar nem feliz nem aflito Nem se refugiar em lugar mais bonito Em busca da inspiração
Não, ela é uma luz que chega de repente Com a rapidez de uma estrela cadente E acende a mente e o coração É, faz pensar Que existe uma força maior que nos guia Que está no ar Vem no meio da noite ou no claro do dia Chega a nos angustiar E o poeta se deixa levar por essa magia E um verso vem vindo e vem vindo uma melodia E o povo começa a cantar!" Poder da Criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) - Diogo Nogueira
"I took um Love, I took it down I climbed a mountain and I turned around And I saw my reflection in the snow covered hills Till the landslide brought me down
Oh, mirror in the sky, what is Love? Can the child within my heart rise above? Can I sail through the changing ocean tides? Can I handle the seasons of my life?
Well, I've been afraid of changing ‘Cause I've built my life around you But time makes you bolder Even children get older And I'm getting older, too
Well, I've been afraid of changing ‘Cause I've built my life around you But time makes you bolder Even children get older And I'm getting older, too Yes, I'm getting older too
Oh, take my Love, take it down Climb a moutain and turn around And If you see my reflection in the snow covered hills Well, the landslide Will bring it down And If you see my reflection in the snow covered hills Well, the landslide Will bring it down" Landslide - Stacey Kent (original dos Fleetwood Mac)
Nada me lembra mais esta fase que atravessamos neste cantinho da Europa à beira mar plantado que a música "Inútil" dos Ultraje a Rigor lá dos idos anos 80 mas tão actual, quer cá quer lá, infelizmente. Adoro essa música, estes foram mais uns que me apresentaram uma música brasileira diferente, nova, irreverente e contagiante com aquele álbum que merecia um óscar só pelo título: "Nós vamos invadir sua praia" e que continha esta pérola. "A gente não sabemos escolher presidente A gente não sabemos tomar conta da gente A gente não sabemos nem escovar os dente Tem gringo pensando que nóis é indigente
Inútil A gente somos inútil Inútil A gente somos inútil Inútil A gente somos inútil Inútil A gente somos inútil
A gente faz carro e não sabe guiar A gente faz trilho e não tem trem prá botar A gente faz filho e não consegue criar A gente pede grana e não consegue pagar A gente faz música e não consegue gravar A gente escreve livro e não consegue publicar A gente escreve peça e não consegue encenar A gente joga bola e não consegue ganhar"
Magnífica entrevista do mestre Wilson das Neves, deliciosa e inspiradora. Mr. Wilson é o maior baterista brasileiro do século XX Hoje a Orquestra Imperial toca em Lisboa e entre os grandes nomes desta big band está um dos maiores músicos do Brasil, Wilson das Neves. Um baterista que gravou com Tom Jobim e Sarah Vaughan, um brasileiro que toca há 27 anos com Chico Buarque, um homem para quem Elizete Cardoso costumava cozinhar. Wilson diz que não foi ele que escolheu o samba, foi o samba que o escolheu a ele. Ainda bem. Quem é Wilson das Neves?
Pergunte a Ed Motta ou a Roberto Carlos. Pergunte a Paul Simon. Consulte as fichas técnicas dos discos de Michel Legrand, Sarah Vaughan, Sylvia Telles. Mister Wilson (como lhe chamava Tom Jobim) é o maior baterista brasileiro do século XX.
Provavelmente, estas páginas são seriam suficientes para incluir a lista de gravações em que participou. "Fala aí um cara... Toquei." Os caras foram mais de 500, e aquele que é para ele "o cara", Chico Buarque, apresenta-o em palco como "o melhor baterista de sempre" ou "o baterista do [seu] coração". Tocam juntos há 27 anos.
Não está sozinho. O realizador Cristiano Abud também considera "o das Neves" o melhor baterista brasileiro de sempre. É dele o documentário O Samba É o Meu Dom, com estreia prevista para o próximo ano, sobre o percurso de Wilson das Neves.
Hoje, regressa a Lisboa com a Orquestra Imperial, uma big band que reúne nomes como Moreno Veloso, Rodrigo Amarante (dos Los Hermanos) ou a actriz da Globo e também cantora Thalma de Freitas. Domenico Lancellotti, um dos fundadores da orquestra, fala de Wilson como "um sábio que esbanja humildade e talento".
O baile é às 21h30 na Fonte Luminosa, com o colectivo português Real Combo Lisbonense. O negócio é dançar!
Como é que descobriu o samba?
Eu não descobri não, o samba é que me descobriu. As coisas é que escolhem a gente. A bateria sempre me fascinou. Nas escolas de música aprendia-se tudo em método americano. A bateria, o americano inventou para tocar a música dele, não para tocar samba. O brasileiro adaptou. Os instrumentos do samba são o pandeiro, o tamborim, o surdo. Fui criado vendo desfile de escola de samba. Minha mãe era baiana, desfilava na escola. A gente já vem naquilo... Meu pai, Flamengo, eu tinha que ser Flamengo. Minha mãe, Império Serrano, eu tinha que ser Império. Você muda de roupa, de mulher, de automóvel, mas de escola de samba, não, é até morrer.
Império Serrano é a escola de samba do bairro Madureira. É o bairro da sua infância?
Não é preciso morar no bairro para ser da escola, é só ser aficionado. Eu nasci no Bairro da Glória, no centro do Rio. Depois mudei-me para São Cristóvão, um bairro de subúrbio. O meu pai trabalhava na [companhia] telefónica, e a minha mãe era doméstica. Tenho três irmãos: dois são bateristas, a minha irmã não é musicista. Eu era obstinado. Queria tocar bateria e fui atrás. Fui estudando, fui indo, não cheguei a lugar nenhum, mas "tou tentando. Sou profissional há 56 anos. Tenho 74, não parece, não?
Não! Um dos seus professores foi Moacir Santos.
Moacir Santos não tem que falar: ele é o tudo. Era um músico extraordinário, professor e amigo, me chamou para tocar com ele. É uma honra, a gente tocar com o professor. Conhece o [álbum] Coisas?
Claro.
Fui eu que gravei, tocando bateria. No Brasil todo o mundo tem ele como ídolo. Tanto como instrumentista, como arranjador, como saber música... Sabia tudo. Jobim, também. Gravei muito com ele, toquei com ele em show. Gravei com qualquer um que você fale aí... Fala!
Chico Buarque, claro. Vinicius, Caetano...
Gil, Bethânia, Gal, Elis Regina, Ney Matogrosso, Zeca Pagodinho, Paul Simon, Sarah Vaughan, Paul Mauriat. Chico é um caso à parte, não tem comparação. Ele é "o cara"! O show dele emociona. Outros estão querendo ser, e ele é. É, mas não se acha. Ele acha que é igual a todo o mundo. Aí é que "tá a diferença. E, segundo o samba, "quem acha vive-se perdendo". Não ache nada, deixe os outros achar... Eu não me acho nada. Sou mais um.
Tem-se em tão pouca conta? Toda gente diz que é o melhor baterista do Brasil do século XX.
Sei que tem tanta gente boa, que eu conheço... Vejo nos outros qualidades que não tenho. Não inventei nada, apanhei no ar. Não é falsa modéstia, é assim mesmo: a importância que me dão a mim não é a mim, é ao que faço. A gente está sempre seguindo o caminho dos bons, imitando os bons.
Os músicos que fazem a síntese entre a velha e a jovem guarda apontam-no como o melhor baterista. Toca com a Orquestra Imperial.
Mas não é tudo isso não... Os meninos da Orquestra me põem numa "vitrine" - que nem "vitrine" de armazém de roupa. Eles estão me mostrando, me vendendo, estão me colocando na frente do palco. Sou um baterista essencialmente brasileiro. Toco ritmo dos outros por necessidade.
Qual é o seu ritmo?
É o samba. Como explicar? Criei a minha maneira de tocar ouvindo os outros. É que nem na hora do tempero da comida: bota salsa, bota manjericão, já ficou diferente. Meu negócio é esse: ouvindo os outros, para achar a minha [maneira de tocar].
Que coisas ouvia quando era pequeno e o fizeram querer ser músico?
Ouvia tudo, na rádio. Tango, canções francesas, música portuguesa... Amália Rodrigues, maravilhosa, infelizmente não toquei com ela, que ela não usava bateria! Quando uma pessoa aprende música, sabe que a música se compõe de ritmo, harmonia e melodia. Se não tem as três, não é música. Bem tocado, direito, afinado, bonito, gosto de qualquer instrumento. Música é a voz da alma. É a alma da gente que fala.
Chico Buarque nota que, muitas vezes, o teor da letra e o ritmo da música não coincidem. Por exemplo, num samba da Mangueira, muito festivo, a letra diz: "Não saio do miserê, ai, ai meu Deus, tenha pena de mim"...
É a maneira de cada um cantar o seu sofrimento, a sua desdita. Cartola [ídolo da Mangueira]: um poeta daqueles lavava carro na rua! Até descobrirem ele. Um sujeito que morava no morro. Canta aí tua musiquinha... Ninguém acreditava [no talente dele]. Depois, não é bem assim. Cartola é um dos caras.
No início da carreira, fez parte da Orquestra Nacional e de outras orquestras, que acompanhavam os grandes cantores, como Elizete Cardoso. Que memórias tem desse tempo?
Quando fui para a escola de música, já era para tocar em orquestras. Toquei em orquestra de rádio, de baile, fiz concurso para a sinfónica do teatro municipal. Fiquei três meses lá. Não me pagavam e larguei. Não podia tocar a Tosca do Puccini duro, que me perdoe o Puccini.
Lamenta não ter prosseguido essa via?
Não me arrependi. Se estivesse lá, estava neurasténico, é sempre a mesma coisa; e eu sou cigano, gosto de tocar por aí. O mundo que eu conheço... Já toquei em Moscovo, Japão, na Europa quase toda, Estados Unidos, Cuba. Ouvia tudo o que possa imaginar, mesmo sem entender o idioma. O que me importava era a música, queria descobrir os ritmos. Ouvia no rádio, não tinha vitrola [gira-discos].
Ouvia sozinho? Era um rapaz solitário?
Não, não. Ia muito a bailes. Anos 50, bailes de terno e gravata. Aí, conheci um baterista chamado Bituca, que era o meu ídolo. Como eu não tinha dinheiro para entrar no baile, ajudava-o a levar o instrumento e ficava lá dentro. Dançando. Quando acabava o baile, ajudava a desmontar e ia embora. Até que um dia ele perguntou: "Você não gosta de bateria?" Me levou para a escola. Então, eu ia no baile, fazia na mesma, só que, em vez de dançar, ficava sentado no pé dele, acompanhando a partitura, "onde é que está?" Foi assim que aprendi.
Como é que deu o salto para a prática?
Na hora em que a orquestra ia descansar, no lanche, eu ficava tocando um sambinha-canção. Depois, ele saiu da orquestra, e eu fiquei. Bituca é que me inventou! Tudo a que não podia ir, mandava me chamar. Quando ele tinha dois trabalhos, "chama o Wilson". "Vê lá se eu posso tocar..." "Pode, senão não mandava chamar." Fui indo, indo, indo, até agora, em que estou aqui com você falando de bateria.
Nas orquestras da rádio tocava o quê?
Samba-canção, bolero, tango, fox-trot, dependendo do cantor. Elizete, trabalhei 20 anos com ela.
Elizete era uma espécie de Amália do Brasil.
Eram amigas. Era "a divina", "a iluminada", ? a enluarada" - tinha esses títulos todos. Ela ia para minha casa cozinhar para mim, se você quer saber...
E porquê?
Porque era minha amiga, porque gostava de mim! Você ia na minha casa, e ela estava de pano na cabeça, de shorts, fazendo comida. A gente contava anedota, falava da vida. O Chico, o Buarque, vai na minha casa. De vez em quando, se faz um almoço lá.
Quando João Gilberto apareceu com Chega de Saudade, em 1958, foi uma grande revolução. Sentiu isso?
Era uma nova maneira de cantar, mais moderna... Mas, no fundo, revolução nada! Isso é rótulo para vender. Cerveja: cada um bota o rótulo que quer, mas não é tudo cerveja? Não tinha nada de mais: é samba! Gravei com João Gilberto, com Tom Jobim. Mas eu tocava do mesmo jeito.
Nunca pensou ir para os Estados Unidos e fazer carreira lá, como Sérgio Mendes, Moacir Santos ou Tom Jobim?
Não sou comunista, sou brasileiro. Mas não gosto do sistema deles [americanos]. Vou lá, já cantei, já toquei, mas não é minha praia. São muito prepotentes. São donos do mundo, menos do Wilson das Neves! Jobim ficou lá, mas com saudades da cerveja brasileira. "Ó Mister Wilson - ele me chamava de Mister Wilson -, nos Estados Unidos é muito bom, mas não tem uísque falsificado! Ninguém põe água no leite!" É uma forma de dizer as falcatruas que se fazem...
Quando tocou com Eumir Deodato (que depois foi produtor da Björk) ou Michel Legrand, foi no Brasil, e não em temporadas nos Estados Unidos?
O Eumir foi no Brasil, com Os Catedráticos e Os Gatos, antes de ele ir para os Estados Unidos. O Michel Legrand fez uma temporada com a Orquestra Brasileira e levou os arranjos para música de filmes. Era para o Bituca, esse meu ídolo, fazer; ele não quis, "chama o Wilson". Moacir vivia nos Estados Unidos, mas estava sempre indo para o Brasil tomar a cachacinha dele...
Bebia-se muito e fumava-se muita maconha...
Quando comecei, não tinha. Nem ouvia falar. O charme do músico era beber uísque, fumar cigarro americano, de terno e gravata. Maconha era a droga da favela e a cocaína era do asfalto.
Gravou discos instrumentais em 68, 69, Wilson das Neves e o Seu Conjunto - Juventude 2000 e Som Quente É o das Neves. Mais recentemente gravou composições suas e tem um disco novo: P"ra Gente Fazer mais Um Samba.
Em 1997 me convidaram para gravar um disco instrumental. Não quis. Já gravei e não acontece nada! Vivo no Brasil e ninguém conhece os meus discos. Vou no Japão e todo o mundo tem o meu disco.
Os seus vinis, de prensagem original, custam uma fortuna.
Eu sei, e nunca recebi um tostão! Mas deixa na mão na Deus. Não corro atrás de dinheiro. Tenho tudo o que quero. Ninguém dá atenção a disco instrumental, só músico. O povão não toma conhecimento.
O que é que o fez gravar um disco com músicas suas, onde também canta?
Tinha as minhas músicas, inclusive com Chico, com João Bosco. A minha ideia não era cantar. Mas eles falaram: "Vamos gravar, que músicas boas!" Foi assim que cantei. Com 60 anos fui revelação de sambista! Incoerência. Ganhei Prémio Sharp, fui indicado para o Grammy Latino. No disco novo, são composições minhas e tudo é cantado. Vamos tocar no concerto de Lisboa.
Falamos a uns dias das eleições no Brasil. Vai votar?
Se puder, voto na embaixada do Brasil em Lisboa. Tomara que as pessoas escolham a pessoa certa para continuar o trabalho, o progresso. Há oito anos que a gente vem crescendo. O país está rico, está emprestando dinheiro! Mas o povo, uma parte do povo, continua pobre. Outra parte, "tá classe média. Todo o mundo tem geladeira, automóvel. Vou votar no candidato do Lula, lógico. Quem chegou antes, sabe como era e vê como está. Se me decepcionar, é outra história. 04.10.2010 Por: Anabela Mota Ribeiro Jornal Ípsilon
Linda música do grande Luiz Melodia que faz parte da banda (trilha) sonora de outro filme que tenho também muita vontade de ver. Chama-se "Era uma vez..." e tem imagens incríveis do Rio. Morro de saudades!
"Eu sonhei Que era rei E você minha rainha Quando acordei Verifiquei Que você não era minha Meu coração Quase parou de dor Mas consegui Te conquistar Meu amor Hoje acordado eu lhe juro Que o sonho que eu tive Era ilusão Vivo com você Feliz A rainha Que tanto Sonhei"
O filme tem ainda uma das músicas mais bonitas da minha Raínha da música, Marisa Monte, o "Bonde do Dom", mais uma parceria brilhante com os restantes Tribalistas, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Que saudades que tenho dos Tribalistas e de um show da Marisa Monte
"Novo dia Sigo pensando em você Fico tão leve que não levo padecer Trabalho em samba e não posso reclamar Vivo cantando só para te tocar
Todo dia Vivo pensando em casar Juntar as rimas como um pobre popular Subir na vida com você em meu altar Sigo tocando só para te cantar
É o bonde do dom que me leva Os anjos que me carregam Os automóveis que me cercam Os santos que me projetam Nas asas do bem desse mundo Carregam um quintal lá no fundo A água do mar me bebe A sede de ti prossegue A sede de ti..."
É um documentário que se chama "Uma noite em 67" e documenta a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em S. Paulo. Já tinha lido sobre este festival no livro Noites Tropicais do Nelson Motta e sabia já que foi uma noite emocionante onde uma plateia, que tanto vaiava como apluadia, teve o privilégio de ver grandes artistas, hoje consagrados, e grandes músicas que ficaram para a história da MPB. "Chico Buarque e o MPB 4 vinham com “Roda Viva”, Caetano Veloso, com “Alegria, Alegria”, Gilberto Gil e os Mutantes com “Domingo no Parque”, Edu Lobo, com “Ponteio”, Roberto Carlos com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas” e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”. A briga tinha tudo para ser boa. E foi. Entrou para a história dos festivais, da música popular e da cultura do País. “É naquele momento que o Tropicalismo explode, a MPB racha, Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, e se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época”, resume o produtor musical, escritor e compositor Nelson Motta." www.umanoiteem67.com.br
Não tocavam há um ano e meio e, segundo as crónicas, tinha sido um show meio insípido pois parecia que estavam entediados uns com os outros. Este show de ontem, no Festival SWU a em Itu, parece que foi perfeito, amenizando a orfandade da sua legião de fãs, onde, orgulhosamente me incluo. Lembro-me de um concerto deles em Lisboa, no Musicais, onde assisti, totalmente por acaso, ao último ensaio na tarde do concerto. Sinto falta destes génios, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, juntos.
Todo o Carnaval tem seu fim - Los Hermanos
London Calling, Bruce Springsteen em Hyde Park. Épico! Não estive lá mas, felizmente, tenho o dvd, apesar de isso não eliminar, de nenhuma forma, os milhares que lá estiveram e que tiveram a oportunidade de ver o Bruce e a E Street Band, em grande forma. Saudades de tempos distantes daquele magnífico concerto em Alvalade.
London Calling - The Clash (feat. by Bruce Springsteen) Esta é para a minha corrida de amanhã.
Música linda de Djavan, que dá oportunidade para comemorar o novo disco dele. Tenho de falar dele aqui. O momento é maravilhoso, com a reunião de uma das vozes ou mesmo a voz feminina mais incrível da MPB, Gal Costa, juntamente com Djavan e Chico Buarque. E a música é absolutamente fantástica, quantas vezes já nos sentimos de tal forma que "À manhã que vem, Nem bom-dia eu vou dar" ou "Tá difícil ser eu, Sem reclamar de tudo". E o fim de semana de temporal que está a chegar pede mesmo coisas destas. Mais um momento perfeito e são estes que me faz amar tanto esta música, esta vivência, estes autores e as suas cumplicidades.
"Não adianta me ver sorrir Espelho meu Meu riso é seu Eu estou ilhada Hoje não ligo a TV Nem mesmo pra ver o Jô Não vou sair Se ligarem não estou À manhã que vem Nem bom-dia eu vou dar Se chegar alguém A me pedir um favor Eu não sei
Tá difícil ser eu Sem reclamar de tudo Passa nuvem negra Larga o dia E vê se leva o mal Que me arrasou Pra que não faça sofrer mais ninguém Esse amor que é raro E é preciso Pra nos levantar Me derrubou nao sabe parar de crescer e doer" Nuvem Negra - Djavan
Comemorações do cetenário da República Portuguesa com a Orquestra... Imperial. Curiosa mas muito bem vinda esta ideia de trazer estes nossos "patrícios" do outro lado do Atlântico. oportunidade para rever esta fantástica reunião de magnificos músicos, Moreno Veloso, Thalma de Freitas, Rubinho Jacobina, Domenico, Kassin, Nina Becker e o grande Mestre Wilson das Neves, que eu tive o prazer de cumprimentar pela segunda vez. Só faltou, infelizmente, o Rodrigo Amarante mas vai com certeza ficar para uma outra vez. É sempre um grande prazer revê-los, sentir a alegria contagiante e viver a simpatia e a humildade deste grupo de gente boa. Até à próxima.