terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Como eu os entendo e invejo

Share
Duas crónicas do Jornal i da Mónica Marques e do Hugo Gonçalves. Quem me conhece sabe que eu não poderia concordar mais com os dois e que, apesar da inquietante inveja, dá prazer sentir este prazer.

Não há pecado abaixo do equador por Mónica Marques, Publicado em 13 de Dezembro de 2010, jornal i
Há um ano ou dois resolvi chatear-me com o Velho Mundo: Com os museus, as bibliotecas, as universidades e as discotecas cheias de jovens chatos e vegetarianos, nada diletantes. E manicures suburbanas, e universitárias iletradas e confusas por não serem meninas bem de dicção afectada, maravilhosa e irritante ao mesmo tempo. E de sindicalistas de meia-tigela e filósofos barbudos de 35 anos, que frequentam jardins gelados para se porem a pensar, a pensar.
Há um ano ou dois que sou feliz longe disso. Só com o pãozinho francês do Talho Capixaba, o sol escaldante dos dias quentes do Rio de Janeiro, onde os políticos são ladrões, mas não de meia-tigela, os facínoras são facínoras, o feijão é preto, a maconha dá tesão, a chuva cai direita, o Fluminense é campeão para regozijo meu e do Nelson Rodrigues e o Ferreira Gullar diz, naquele seu riso tão característico e nas tintas para o tempo, que não quer ter razão, só quer é ser feliz.

Final de semana carioca por Hugo Gonçalves, Publicado em 14 de Dezembro de 2010, jornal i
É tudo muito rápido e assim que chegas já estás utilizando o gerúndio sem te dares conta e entre a casa e a praia já bebeste um chopp e há uma agitação de vendedores ambulantes, vapores de gasolina, um machete decapitando um coco com água de gelar o céu-da- -boca. Depois há cervejas na praia, o cheiro da maconha fumada por rapazes que não usam sunga e que talvez tenham profissões artísticas e se desloquem em bicicletas. Em seguida estás num lugar com mais gente e é de noite e os morros iluminados ficam mais bonitos por causa das lentes da cachaça e o teu amigo diz-te, numa festa no Centro, que nunca pensou que as brasileiras fossem tão altas. Dormes pouco e acordas cedo porque a ventoinha no tecto produz um barulhinho bom, mas não refresca. Sais para a praia e no final do dia, num terraço onde se viam urubus planando sobre os prédios, tiveste a certeza que a combinação cachaça & chopp é remédio para a felicidade. No dia seguinte: praia, feijoada, cerveja e cachaça até que a noite apareceu e no Rio podes entrar no mar sem a histeria de um sequestro. É tudo muito rápido, os dias têm a mesma intensidade das semanas em que foste feliz e a presença constante de uma suspeita: mudar de vida é mais fácil do que parece. Porque estás num lugar tão esplendorosamente novo percebes que aqui só um masoquista ficaria deprimido. Talvez não haja nenhuma lição a tirar destes dias que parecem música. Mas quando caminhas para a praia e um dos quiosques passa "Beija eu", de Marisa Monte, sabes que viver com música também é remédio gostoso para a felicidade.

"Seja eu,
Seja eu,
Deixa que eu seja eu.
E aceita
O que seja seu.
Então deita e aceita eu.

Molha eu,
Seca eu,
Deixa que eu seja o céu
E receba
O que seja seu.
Anoiteça e amanheça eu.

Beija eu,
Beija eu,
Beija eu, me beija.
Deixa
O que seja ser

Então beba e receba
Meu corpo no seu corpo,
Eu no meu corpo,
Deixa,
Eu me deixo
Anoiteça e amanheça"
Beija Eu - Marisa Monte

...deixa que eu seja o céu e receba, o que seja seu...

1 comentário:

  1. Quem me dera ter a coragem de deixar tudo para trás e mudar-me de malas e bagagens para o MEU RIO...

    ResponderEliminar