Esta frase demonstra bem o meu lado de admirador do Rui Veloso, além de ser uma frase que tem muito a ver comigo e que me emociona sempre que ouço.
O Rui (se ele me permitir tratá-lo assim) foi um dos primeiros músicos que eu admirei de uma forma completa, pela sua personalidade e atitude e pelo o estilo de música que me fez gostar de praticamente tudo o que fez até hoje. Mesmo nos discos mais recentes, apesar de já não gostar de tudo, encontro sempre, pelo menos uma música que me leva aqueles longíquos anos 80 e 90 em que tudo o que o Rui fazia era sagrado. O facto de não gostar de tudo não tem só a ver com o facto do brilhantismo já não ser o mesmo mas também porque a sua música, mesmo que continuasse a ser brilhante, já não teria a mesma saliência que teve no momento em que apareceu e se consolidou. Temos acesso e há muito mais leque de escolha e os tempos passam e eu ainda sou daqueles que associo as músicas a momentos e a pessoas. Por isso, por mais contemporânea que seja a música do Rui, felizmente está muito mais associada a gratas recordações de tempos que já lá vão.
Esta minha admiração teve razões circunstanciais para ser alimentada, felizmente o Rui é português e, além de ser difundido nas nossas rádios com frequência, fazia concertos com frequência perto de Lisboa. Foram várias as excursões ao Coliseu e lembro-me especialmente de dois concertos gratuitos onde fui, um na Amadora e outro na Alameda D. Afonso Henriques, junto à Fonte Luminosa, onde ele, no final, me autografou muito efusivamente um bilhete, já aí antigo, de um concerto épico no famoso Coliseu e que ainda guardo.
Lembro-me da loucura que foi o álbum Rui Veloso, que me deram num Natal em cassete e que eu escutei ininterruptamente por muito tempo, gingando com o "Negro do Rádio de Pilhas", swingando com a Beirã, sofrendo com o "Cavaleiro Andante" e com ò "Directo à Cabeça", desejando sofregadamente conhecer "Porto Côvo" e penitenciando-me incondicionalmente por não possuir o sentimento nortenho que o Rui e o Carlos Tê demonstram no "Porto Sentido" e naquele final ao vivo em que o Rui acentuava o sotaque e acabava com um initerrupto "naiasa".
Eram os tempos em que se podiam ouvir os concertos em directo na Antena 1 e que, numa das raras ausências, tive oportunidade de gravar integralmente mais uma bela prestação que ficou eternizada numa cassete que uma amiga, uns tempos depois, fez a gentileza de a perder. É óbvio e claro que deixou de ser amiga nesse exacto momento, a sério!
Qualquer concerto Rui Veloso era épico, com 358 encores e em cada um, ele aparecia com o mesmo entusiasmo e, se dependesse só dele, estaria ali toda a noite. Lembro-me especialmente de um em que ele apresenta, em primeira mão, o "Fado do Ladrão Enamorado" e recupera uma música que ele tinha composto para um festival da canção (interpretada pela Né Ladeiras, acho eu) e que hoje é uma das suas músicas mais marcantes "Jura".
Foram os tempos e, devido ao álbum "Rui Veloso", que, confesso, descobri as pérolas dos álbuns antigos. Conhecia as mais difundidas, o "Chico Fininho" que nunca achei grande piada, achava piada à "Rapariguinha do Shopping", à " Ai quem me dera a mim rolar contigo no Palheiro" e à "Miúda (Fora De Mim)", amava e amo a "Sei de uma Camponesa", mas do álbum "Ar de Rock", há grandes músicas, ainda hoje, o "Bairro do Oriente", a "Afurada" e a incrível "Saíu para a Rua" que tinha aquele magnífico final "A humidade quente da Loucura" que foi, durante muito tempo, jingle de promoção de um programa de rádio. Grande álbum, uma obra de interesse nacional.
A seguir a este, veio o "Fora de Moda" e o "Guardador de Margens". Mais uma vez grandes músicas e grandes poemas desta dupla, "Balada Da Fiandeira", "Sayago Blues" (sempre um grande momento nos concertos) e "A Gente não lê", do primeiro e a "Elegia Sanjoanina" (adoro e o meu amigo Manuel Lourenço cantava-a quase tão bem como o Rui), o "Guardador de Margens" e a brilhante "Ilha", um dos mais belos poemas do Tê (desculpe o abuso Sr. Carlos Monteiro da Cedofeita como o Gaudêncio, carinhosamente o tratava nos concertos).
Foi o Rui, também, que me levou para os blues e o que eu vibrei quando ele tocou com o B.B. King, outro raro momento de ausência mas que ficou documentado numa VHS, claro.
Depois veio esse sucesso estrondoso, que o colocou definitivamente no mainstream e que se chamava "Mingos & Os Samurais" a tão falada aventura de uma banda de salões dançantes e que é o principal motivo dos seus concertos de comemoração dos trinta anos. Além dos sucessos indiscutíveis que aprecio mas que prefiro guardar nas recordações e não os ouço há muito tempo, gsotava muito de alguns menos badalados, o "No dia em que o Meno Rock morreu", o "Um Trolha d'Areosa", a "Conceição", a "Morena de Azul", o bem disposto "Psicadélico Desesperado" e o terno "No Extremo do Salão" que tinha uma letra deliciosa, especialmente o início:
"Trocamos um olhar vago
Nos extremos do salão
E um fósforo riscou
Na sola do meu coração
E a chama até queimou
Num olhar mais penetrante
Mas nada em mim avançou
Sou do tipo hesitante"
Identificava-me tanto na minha imberbe juventude plena de timidez, latente nos bailes e nas festas que frequentava.
A seguir veio o álbum de comemoração dos descobrimentos portugueses, mais uma estória contada em canções, acto árduo e muito complicado, na minha opinião mas que tinha mais 4 grandes músicas, pelo menos, "Lançado", "Nativa", "Praia da Lágrimas" e o emocionante "Logo que passe a Monção".
Existem muito mais músicas do Rui que amo, como "Inesperadamente", que ele fez para a Luz Casal, "Não queiras saber de mim", a "Canção de Alterne" que ele canta com a Nancy Vieira (e que se podem encontrar aqui no blog), sem esquecer, claro, o "Primeiro Beijo". Não me posso ainda esquecer algumas outras que marcaram outras fases do Rui, como o terno "Não me mintas" da banda sonora do filme "Jaime", o "Já não há canções de amor" e o "Nunca me esqueci de ti". Mas, de facto, aqueles primeiros álbuns são intemporais e, ainda hoje tenho um grande prazer ouvi-los.
Amanhã, o Coliseu vai estar cheio para o receber e vou estar cheio de felicidade para o ouvir, com um grande grupo de amigos que, partilha comigo, há mais ou menos anos, esta "Paixão... (Segundo Nicolau da Viola)".
"Bem sabes que a memória é um atributo dos génios"
O Rui (se ele me permitir tratá-lo assim) foi um dos primeiros músicos que eu admirei de uma forma completa, pela sua personalidade e atitude e pelo o estilo de música que me fez gostar de praticamente tudo o que fez até hoje. Mesmo nos discos mais recentes, apesar de já não gostar de tudo, encontro sempre, pelo menos uma música que me leva aqueles longíquos anos 80 e 90 em que tudo o que o Rui fazia era sagrado. O facto de não gostar de tudo não tem só a ver com o facto do brilhantismo já não ser o mesmo mas também porque a sua música, mesmo que continuasse a ser brilhante, já não teria a mesma saliência que teve no momento em que apareceu e se consolidou. Temos acesso e há muito mais leque de escolha e os tempos passam e eu ainda sou daqueles que associo as músicas a momentos e a pessoas. Por isso, por mais contemporânea que seja a música do Rui, felizmente está muito mais associada a gratas recordações de tempos que já lá vão.
Esta minha admiração teve razões circunstanciais para ser alimentada, felizmente o Rui é português e, além de ser difundido nas nossas rádios com frequência, fazia concertos com frequência perto de Lisboa. Foram várias as excursões ao Coliseu e lembro-me especialmente de dois concertos gratuitos onde fui, um na Amadora e outro na Alameda D. Afonso Henriques, junto à Fonte Luminosa, onde ele, no final, me autografou muito efusivamente um bilhete, já aí antigo, de um concerto épico no famoso Coliseu e que ainda guardo.
Lembro-me da loucura que foi o álbum Rui Veloso, que me deram num Natal em cassete e que eu escutei ininterruptamente por muito tempo, gingando com o "Negro do Rádio de Pilhas", swingando com a Beirã, sofrendo com o "Cavaleiro Andante" e com ò "Directo à Cabeça", desejando sofregadamente conhecer "Porto Côvo" e penitenciando-me incondicionalmente por não possuir o sentimento nortenho que o Rui e o Carlos Tê demonstram no "Porto Sentido" e naquele final ao vivo em que o Rui acentuava o sotaque e acabava com um initerrupto "naiasa".
Eram os tempos em que se podiam ouvir os concertos em directo na Antena 1 e que, numa das raras ausências, tive oportunidade de gravar integralmente mais uma bela prestação que ficou eternizada numa cassete que uma amiga, uns tempos depois, fez a gentileza de a perder. É óbvio e claro que deixou de ser amiga nesse exacto momento, a sério!
Qualquer concerto Rui Veloso era épico, com 358 encores e em cada um, ele aparecia com o mesmo entusiasmo e, se dependesse só dele, estaria ali toda a noite. Lembro-me especialmente de um em que ele apresenta, em primeira mão, o "Fado do Ladrão Enamorado" e recupera uma música que ele tinha composto para um festival da canção (interpretada pela Né Ladeiras, acho eu) e que hoje é uma das suas músicas mais marcantes "Jura".
Foram os tempos e, devido ao álbum "Rui Veloso", que, confesso, descobri as pérolas dos álbuns antigos. Conhecia as mais difundidas, o "Chico Fininho" que nunca achei grande piada, achava piada à "Rapariguinha do Shopping", à " Ai quem me dera a mim rolar contigo no Palheiro" e à "Miúda (Fora De Mim)", amava e amo a "Sei de uma Camponesa", mas do álbum "Ar de Rock", há grandes músicas, ainda hoje, o "Bairro do Oriente", a "Afurada" e a incrível "Saíu para a Rua" que tinha aquele magnífico final "A humidade quente da Loucura" que foi, durante muito tempo, jingle de promoção de um programa de rádio. Grande álbum, uma obra de interesse nacional.
A seguir a este, veio o "Fora de Moda" e o "Guardador de Margens". Mais uma vez grandes músicas e grandes poemas desta dupla, "Balada Da Fiandeira", "Sayago Blues" (sempre um grande momento nos concertos) e "A Gente não lê", do primeiro e a "Elegia Sanjoanina" (adoro e o meu amigo Manuel Lourenço cantava-a quase tão bem como o Rui), o "Guardador de Margens" e a brilhante "Ilha", um dos mais belos poemas do Tê (desculpe o abuso Sr. Carlos Monteiro da Cedofeita como o Gaudêncio, carinhosamente o tratava nos concertos).
Foi o Rui, também, que me levou para os blues e o que eu vibrei quando ele tocou com o B.B. King, outro raro momento de ausência mas que ficou documentado numa VHS, claro.
Depois veio esse sucesso estrondoso, que o colocou definitivamente no mainstream e que se chamava "Mingos & Os Samurais" a tão falada aventura de uma banda de salões dançantes e que é o principal motivo dos seus concertos de comemoração dos trinta anos. Além dos sucessos indiscutíveis que aprecio mas que prefiro guardar nas recordações e não os ouço há muito tempo, gsotava muito de alguns menos badalados, o "No dia em que o Meno Rock morreu", o "Um Trolha d'Areosa", a "Conceição", a "Morena de Azul", o bem disposto "Psicadélico Desesperado" e o terno "No Extremo do Salão" que tinha uma letra deliciosa, especialmente o início:
"Trocamos um olhar vago
Nos extremos do salão
E um fósforo riscou
Na sola do meu coração
E a chama até queimou
Num olhar mais penetrante
Mas nada em mim avançou
Sou do tipo hesitante"
Identificava-me tanto na minha imberbe juventude plena de timidez, latente nos bailes e nas festas que frequentava.
A seguir veio o álbum de comemoração dos descobrimentos portugueses, mais uma estória contada em canções, acto árduo e muito complicado, na minha opinião mas que tinha mais 4 grandes músicas, pelo menos, "Lançado", "Nativa", "Praia da Lágrimas" e o emocionante "Logo que passe a Monção".
Existem muito mais músicas do Rui que amo, como "Inesperadamente", que ele fez para a Luz Casal, "Não queiras saber de mim", a "Canção de Alterne" que ele canta com a Nancy Vieira (e que se podem encontrar aqui no blog), sem esquecer, claro, o "Primeiro Beijo". Não me posso ainda esquecer algumas outras que marcaram outras fases do Rui, como o terno "Não me mintas" da banda sonora do filme "Jaime", o "Já não há canções de amor" e o "Nunca me esqueci de ti". Mas, de facto, aqueles primeiros álbuns são intemporais e, ainda hoje tenho um grande prazer ouvi-los.
Amanhã, o Coliseu vai estar cheio para o receber e vou estar cheio de felicidade para o ouvir, com um grande grupo de amigos que, partilha comigo, há mais ou menos anos, esta "Paixão... (Segundo Nicolau da Viola)".
"Bem sabes que a memória é um atributo dos génios"
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