quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Tom, Zeca, Moreno, Caetano

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Foi maravilhoso. É verdade que eu sou suspeito, já vi muitas vezes o Caetano Veloso ao vivo, em vários registos e com diferentes estados de espiríto, quer eu, quer ele e sempre amei os seus concertos, nem sempre pelas mesmas razões mas nunca saí fustrado de nenhum, pelo contrário, sempre saí encantado.
Ontem, ia com muito poucas expetativas, o registo era único e recente, Caetano e os seus 3 filhos juntos em palco e sem banda de suporte, interpretando temas, na sua maioria, do progenitor e promotor da ideia mas também algumas criações dos filhos. Moreno jáconheço há muito e conheço bem, o seu trabalho, inclusivamente, as colaborações que já executou com o pai. Dois outros conheço basicamente o que o disco da tournée mostra. E é o disco que já escutei algumas vezes, que me deixou tão de pé atrás, achei um disco competente mas meio sem sal. Um disco que traz um novo alinhamento de canções do Caetano, talvez com músicas que sejam mais especiais para os seus filhos e a única novidade são os temas dos filhos, coisas diferentes mas boas é um facto mas nada mais do que isso. Estou a ser redutor na análise, mesmo assim, reconheço, o alinhamento de temas do Caetano não é um tema irrelevante pois a incrível dimensão do seu repertório permite que ele possa fazer uma tournée por ano sempre diferente da anterior e, o facto do Caetano co-interpretar alguns dos temas dos seus filhos também é facto importante pois, por mais qualidade que os rebentos tenham, nenhum tem uma voz como a do pai e, sempre que ele coloca a sua voz numa música, sem desprimor para ninguém, a verdade é que essa música ganha uma outra dimensão e ganha, automatica intrinsecamente, um upgrade na qualidade.
Mas o disco, apesar de ser um registo fiel do concerto, é unidimensional, não consegue transmitir a dimensão emocional. Não sei como têm sido os concertos nas outras cidades e sei que Caetano Veloso no Coliseu dos Recreios é sempre um marco especial mas ontem foi ainda mais especial :). A energia que pairava no ar do Coliseu era de uma noite singular, talvez o calor da primeira noite de verão do ano tenha também inflamado mais a atmosfera mas o facto era incontornável, a noite ia ser, no mínimo, fantástica.
Depois foi encantador perceber a cumplicidade dos irmãos entre eles e com o seu pai e foi maravilhoso perceber a ansiedade que o mais maduro e experiente membro do clã denotava por estar em palco com os seus filhos, esse Caetano humano, protetor, nervoso e, por vezes até receoso, foi algo que nunca tinha visto e estimulou a uma ainda maior cumplicidade e comunhão do público com eles.
Previsto no alinhamento está um tema maravilhoso do grupo de Pagode, Grupo Revelação, intitulado "Tá escrito" e que encerra a atuação antes dos encores. No disco é interpretada pelo Zeca mas ontem foi pelo Moreno. É a única música que não é de  autoria do clã mas é um excelente hino para a despedida. No nosso caso, tivemos ainda a sorte de, nos encores, ouvir Moreno a cantar Amália Rodrigues, interpretando a marcha lisboeta "Noite de Sto. António" e Caetano a cantar "Amar pelos dois" do Salvador Sobral, gentilezas que contribuiram para que a noite especial se tornasse verdadeiramente inesquecível.
Moral da estória, nunca se recusa um concerto de Caetano e nunca se vai com baixas expetativas. Obrigado aos quatro por me proporcionarem uma noite tão extraordinária.

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