terça-feira, 4 de outubro de 2011

"Mas acontece que eu sorri para ti / E aí, larari, lairiri, lariri…"

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Ainda não falei aqui do novo trabalho do Chico Buarque, já ouvi de tudo, desde o muito bom até ao muito mau. Confesso que, também eu, apesar de menos extremista, tenho andado meio dividido. Mas acima de tudo reconheço belas músicas, lindas declarações de amor que reflectem uma consistência de qualidade equiparável a tantos outros belos temas com que o Chico já nos presenteou. O cara deve estar apaixonado e faz muito bem!
Fiquei ainda mais contente por ver alguém tão competente nesta área e que eu respeito tanto, a ter a mesma opinião dita, claro, com uma eloquência extraordinária que me provoca inveja e admiração permanente. Valeu Nelson!

"Com toda a sua densidade musical e poética já reconhecida pela crítica especializada, o que mais me impressiona e emociona no novo disco de Chico Buarque não são as melodias e harmonias elaboradas e nem o virtuosismo e a audácia das rimas, mas as canções de amor, as confissões de um poeta apaixonado. Como um Vinicius moderno, em seus melhores momentos, seu discípulo dileto coloca o coração nos versos e revela o seu encantamento, suas esperanças e temores com um novo amor, logo ele, sempre tão discreto com sua vida pessoal e seus sentimentos.
O poeta sessentão presenteia sua jovem musa - e o público - com músicas e letras que estão entre as suas melhores e afirmam o seu crescimento musical e a sua vitalidade criativa. Sem declarações de amor sentimentais, sem populismo afetivo nem romantismo popular, tudo em forma rigorosa, com palavras, ritmos e sons se harmonizando numa síntese entre razão e emoção difícil de ser encontrada no mercado inesgotável das canções de amor.
"Meu tempo é curto, o tempo dela sobra / Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora / Temo que não dure muito a nossa novela, mas / Eu sou tão feliz com ela / Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas / Não canso de contemplá-la."
No blues Essa pequena, entre as delícias do amor e a fugacidade do tempo, entre a urgência e a paciência, Chico enternece sem perder o humor, rimando "ela pinta a boca e sai" com "take your time" e concluindo: "Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas / O blues já valeu a pena".
Na linda Tipo um baião as mudanças bruscas de ritmo e de melodia inspiram os versos que criam imagens vivas dos seus sentimentos: "É São João / Vejo tremeluzir / Seu vestido através da fogueira / É Carnaval/ E o seu vulto a sumir / Entre mil abadás na ladeira".
Como um filme musical, Se eu soubesse é a história do encontro improvável e feliz entre o peso da maturidade e a leveza da juventude, que se harmonizam no dueto amoroso de Chico e Thais Gulin: "Mas acontece que eu sorri para ti / E aí, larari, lairiri, lariri…"
Corações apaixonados de todas as idades devem comprar imediatamente."
Corações apaixonados - Nelson Motta, crónica de 30 de Setembro de 2011 no Estadão
"Ah, se eu soubesse não andava na rua
Perigos não corria
Não tinha amigos, não bebia
Já não ria a toa
Não enfim, cruzar contigo jamais

Ah, se eu pudesse te diria na boa
Não sou mais uma das tais
Não ando com a cabeça na lua.
Nem cantarei 'eu te amo demais',
Casava com outro se fosse capaz
Mas acontece que eu saí por aí
E aí, larari larari larari larara

Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa
Não ia mais à praia
De noite não gingava a saia,
Não dormia nua
Pobre de mim, sonhar contigo, jamais

Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole outra vez
Não dava mole a tua pessoa,
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.

Mas acontece que eu sorri para ti
E aí larari larara lariri, lariri
Pom, pom, pom, ...

Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa
Não ia mais à praia
De noite não gingava a saia,
Não dormia nua
Pobre de mim, sonhar contigo, jamais

Ah, se eu pudesse não caía na tua
Conversa mole outra vez
Não dava mole a tua pessoa,
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.

Mas acontece que eu sorri para ti
E aí larari larara lariri, lariri..."
Se eu soubesse - Chico Buarque com participação Thaís Gulin

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