São incontáveis e inexplicáveis as sensações que experimentei no show de ontem do Caetano, o homem está melhor do que nunca e aparenta uma juventude permanente em tudo o que faz. A capacidade de se reinventar é, aparentemente inesgotável e, por isso, conto assistir a essa força muitos anos mais. A verdade é que se repetiu, mais uma vez, a sensação que tenho cada vez que acaba um show e que é ansiar pela próxima oportunidade que vou ter de revê-lo. O desejo de fazer rewind até ao pricípio do show é persistente.
Este show que suporta o lançamento do último disco Zii & Zie mas que vem na sequência da fase iniciada pelo controverso álbum Cê, é de facto genial. Genial pela simplicidade da abordagem, pelo descontracção e jovialidade da banda, pela recuperação e, mais do que isso, pela reinvenção de alguns temas marcantes dos primeiros tempos da sua carreira e pelo Caetano, ponto.
Um desses exemplos é logo a música de abertura “A Voz do Morto”, um samba que fez no início da carreira, na década de 60, para Araci de Almeida cantar em homenagem ao Paulinho da Viola. Um resgate histórico saboroso com uma moderna roupagem de fazer inveja a qualquer banda rock:
"Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e de prata
De filó de nylon
Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais, coitados
Ninguém de salva, ninguém me engana
Eu sou alegre, eu sou contente, eu sou cigana
Eu sou terrível, eu sou o samba
A voz do morto, os pés do torto
O cais do por, a vez do louco, a voz do mundo
Na Glória
Eu canto o mundo que roda
Eu e o Paulinho da Viola
E viva do Paulinho da Viola
Eu canto com o mundo que roda
Mesmo do lado de fora
Mesmo que eu não cante agora
Ninguém me entende, ninguém me chama
Mas ninguém me prende, ninguém me engana
Eu sou valente, eu sou o samba
A voz do morto, os pés do torto, atrás do murro
Rapaz do mundo, a vez de tudo
Na Glória"
É caso para perguntar, como pode um samba com mais de 40 anos ser cantado e tocado de uma maneira tão pós-tudo como se tivesse sido ontem?
Outros momentos marcantes são as interpretações de “Objeto Não Identificado”, “Bethânia” e “Eu sou Neguinha”. Caetano é um performer moderno.
Do álbum novo, gosto muito da canção "Lapa" que me trouxe a saudade do Rio de volta, o "Falso Leblon", "A cor amarela" e a música "Base de Guantanamo" digno sucessor do incómodo mas fascinante "Haiti".
Deu ainda tempo para uma maravilhosa interpretação de "Volver", uma partilha com o público com "Desde que o samba é samba" e um dos encores com um impressionante "Força Estranha" com direito a homenagem especial ao Rei, cantando finalmente o "no ar" no refrão.
Até no cenário, o show é emocionante com uma asa delata presente e que nos faz planar pelo Rio e por Havana. para acabar, uma grande banda com um tremendo Pedro Sá na guitarra!
Volta depressa!!
quarta-feira, 28 de julho de 2010
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