sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

"Brasil, meu dengo a Mangueira chegou"

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"Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasil que se faz um país de Lecis, Jamelões
São verde e rosa as multidões
(...)
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês"

Este é o samba enredo da minha querida Verde e Rosa para o Carnaval de 2019. O enredo tenta contar a história do Brasil de forma tão simples como numa história de ninar e é mesmo esse o tema do enredo do desfile da escola este ano, "História pra ninar gente grande". No entanto, o propósito é muito mais ambicioso, o título do samba enredo é, "Eu quero um Brasil que não está no retrato" e a escola pretende contar mais do que a história dos marcos e dos factos formais que já se conhecem, pretende contar a "história que a história não conta", a história do cidadão comum ou mesmo do ostracizado, havendo claramente uma tomada de posição política consciente. Posição que atinge o seu momento de apoteose quando lembra, cita e homenageia a vereadora carioca Marielle Franco, assassinada a tiro no dia 14 de março de 2018 no Rio, junto com o seu motorista Anderson Gomes.
O Carnaval, apesar de ser uma manifestação cultural e, nesse sentido, uma das maiores do mundo, já esteve diversas vezes ligada a manifestações de posições socio políticas e esta opção da Mangueira só vem realçar o momento que o Brasil atravessa, um país mais do que bipolarizado, partido ao meio com posições diametralmente opostas dos dois lados das trincheiras na grande maioria das temáticas sociais e políticas que são essenciais para a vivência de qualquer sociedade.
Não se deve também esquecer que o samba, entres os vários críticos cotados e personalidades relevantes no Carnaval do Rio, está cotado como um dos melhores deste ano, senão mesmo o melhor. E isso só dá mais valor aos criadores e à escolha corajosa da maior escola de samba do país.
Vai Mangueira!