Com a melancolia própria de um verão com crise de identidade, algumas coisas boas que sairam este ano e todas elas carregadas de soturnidade, ideais para agudizar a frustante nostalgia de uma dia tórrido. Mas o fim de semana está aí e com sinais positivos de cheiros e sabores quentes.
"Seven falls", tema do álbum de estreia a solo da cantora e compositora norte-americana Laura Veirs, "Just dumb enough to try", canção mais bonita do quarto trabalho do, também norte americano Father John Misty, "Crush" é o novo single dos texanos Cigarettes After Sex, o canadiano Patrick Watson também tem um single novo e chama-se "Melody noir". No mesmo estilo, Ray LaMontagne lançou há pouco "Such a simple thing" e, finalmente e para acabar, mais um americano, cantor e compositor, Ryan Adams e o doce "Baby I love you".
Sexta feira 13 dá nisto, dia para escutar monstros do soul do país irmão, Jorge Ben Jor, "O homem da gravata florida", Wilson Simonal, Mustang cor de sangue", Bebeto, "Mr. Brown", Zé Roberto "Lotus 72 D", Toni Tornado "Me libertei", e o eterno monstro Tim Maia, "Idade". Deve ter sido uma época bem divertida com estes malucos a criar e a atuar. A música soul americana a ganhar tropicalismo.
Este é o título da crónica do jornalista Gabriel Saboia para assinalar o 60º aniversário do nascimento de um novo estilo musical na música popular brasileira, uma nova bossa. De facto, esta nova abordagem à música não nasceu isolada mas foi sim uma evolução nos estilos musicais já existente no panorama vasto e risxco da música que se fazia já no Brasil e ainda com influências assumidas e latentes da música americana e do jazz.
Em 1963, o crítico José Ramos Tinhorão dizia, "Filha de aventuras secretas de apartamento com a música norte-americana - que é inegavelmente a sua mãe - a bossa nova vive até hoje o mesmo drama de tantas crianças de Copacabana: não sabe que é o pai", conforme refere uma crónica que também asssinala a data na Folha de São Paulo.
A data que oficialmente assinala o nascimento da bossa nova é o dia de lançamento do disco "Chega de Saudade" de João Gilberto e que posteriormente foi considerado o marco mais representativo para assinalar o nascimento deste movimento cultural que, por ter nascido fruto da colaboração e partilha espontânea e desiteressada de um vasto número de artistas, compositores e poetas, não teve um nascimento oficial mas, em oposição, uma génese natural, orgânica e florescente fruto do ambiente que o boêmio Rio de Janeiro da altura proporcionou.
A música que dá nome ao disco é uma criação de António Carlos Jobim e do poeta Vinícius de Moraes e a interpretação e o acompanhamento ao violão de João Gilberto, condensa em si uma grande parte da essência desta nova música e muito se deve a estes três a consolidação e a internacionalização até deste estilo, sem desprimor para todos os outros que contribuiram e que com legitimidade também deve ser considerados protagonistas da criação. Sem a voz, os acordes e o dedilhar do violão único de João Gilberto, a cultura musical ao mesmo tempo eclética e erudita de Tom Jobim e a boêmia malanda aliada a uma fé inabalável e ingénua no amor do poetinha seria impossível que este estilo músical reunisse tantas músicas tão cheias de ternura e afetos, com uma simplicidade só digna de génios. Uma música tão incrivelmente intemporal e que nos transporta tão rapidamente para o maravilhoso Rio de Janeiro.
Para quem não conhece, devia conhecer, a Mariana Secca é uma excelente revelação da música de língua portuguesa. E escolhi este vídeo pois, no início tem uma breve apresentação de quem esta artista que dá pelo nome de Maro, no meio artístico.
É uma nova voz e até um novo som talvez inspirado no indie folk tão em voga na américa do norte, nos últimos anos.
Cantautora , musica, artista muito precoce, começou a tocar piano aos 4 anos, a compor aos 12 e aos 17 resolveu ir estudar para os Estados Unidos para a Berklee College of Music, escola onde estudaram diversos músicos com notoriedade mundial, nomeadamente o guitarrista Steve Vai e John Mayer.
Durante o ano de 2018 tem vindo a lançar 3 discos como estreia, algo bastante incomum mas que mostra o trabalho acumulado até ao seu lançamento e que, segundo ela, conta o seu crescimento na música até aos seus atuais 23 anos. Volume 1, 2 e 3 são os nomes dos três trabalhos e este belo "Páro quando oiço o teu nome" faz parte do 2º disco.
Este é o título da música que mais gosto dos Pearl Jam, banda que me causa sempe diferentes emoções e até reações físicas. É a primeira banda que coloco a tocar no carro sempre que tenho um carro novo, não sei porquê mas tornou-se ujma tradição desde há 18 anos, nos idos anos 2000 quando coloquei o recente disco ao vivo gravado no Estádio do Restelo em Lisboa.
Tenho uma misto de emoções sempre que recordo a única vez que os vi ao vivo, no então denominado Pavilhão Atlântico, em 2006. Foi um concerto incrível, com uma energia vibrante e única. Noite em cheio, mesmo! Infelizmente, na manhã do dia seguinte recebi uma das notícias mais tristes da minha vida, o meu cunhado e grande amigo Z. faleceu num acidente estúpido e macabro a caminho do trabalho.
Nunca mais tive interesse em voltar a ver Pearl Jam e não sei sequer se, nessa noite, eles tocaram esta música. No entanto, desde esse dia, cada vez que a oiço, é um momento de recordação dessa pessoa única. Há outros motivos e outras músicas que me recordam o Z., especialmente o sobrinho que me proporcionou mas esta música tornou-se especial por este infeliz acaso mesmo antes de me ter apercebido da sua letra.
Se tudo correr como o previsto vou voltar a ver Pearl Jam na próxima semana e vou-me recordar do Z.
"Ah yeah, can you see them out on the porch? Yeah, but they don't wave.
I see them round the front way. Yeah.
And I know, and I know I don't want to stay.
Make me cry..."
Yellow ledbetter - Pearl Jam
A cantora Simone Bittencourt de Oliveira ou, simplesmente, Simone como é conhecida, foi uma das minhas primeiras paixões musicais e uma das grandes influências que, de uma forma profunda e duradoura, formou o meu gosto musical para a vida.
A sua voz incrível e a sua interpretação única do que cantava faziam porprocionavam uma fórmula única e distintiva que lhe conferiu um lugar de destaque no universo das intérpretes femininas da mpb, apesar da musculada concorrência e da diversidade de vozes femininas de elevada qualidade que estavam no auge quando ela surgiu, nomeadamente, Gal Costa, Elis Regina, Maria Bethânia e Clara Nunes e sem colocar aqui a anterior geração surgida do samba canção e que ganhou consistência com o surgimento da bossa nova.
Não foi apenas a sua fórmula que me seduziu, o que cantava e continua a cantar também foi relevante, a Simone é uma intérprete que não compõe as músicas que canta e o seu cancioneiro é vasto e diversificado. Apesar de ser, reconhecidamente uma cantora de música romântica, a sua carreira demonstra um reportório muito mais vasto e eclético, samba, música popular, música de intervenção até, são estilos que, reconhecidamente, lhe são associados.
E esse facto foi também a minha sorte, as cassetes que gravava dos vinis de uma tia mais velha de um amigo da escola, colega desde a primária, fizeram-me descobrir Gonzaguinha, Milton Nascimento, Ivan Lins, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Lupicínio Rodrigues, Pixinguinha e tantos outros, através da sua forma de interpretar estes grandes astros da mpb.
É a Simone que me apresenta também a lógica dos samba enredos pois, numa fase da sua carreira, cada disco continha pelo menos um samba emblemático.
Há inúmeras músicas que fazem parte de momentos determinantes da minha vida mas há uma que já não ouvia há muito tempo e que ouvi por acaso hoje que se chama "Raios de luz".
É um tema enternecedor e com um poema deliciosa pela simplicidade que contém. E lembro-me também que no disco onde tenho essa música, uma coletânea de sucessos chamada "Sou eu" a seguir a este tema surge "Carinhoso" a maravilhosa música do Pixinguinha que é quase um hino não oficial do Brasil. Música que eu sempre amei e que ganhou uma importância especial e única na minha vida recente pois foi a música que nos acompanhou quando casámos.
Sempre achei que uma não podia viver sem outra apesar de perceber depois que esta sequência era apenas um feliz acaso. No entanto felizes acasos destes merecem tornar-se inesquecíveis.
"Você chegou e iluminou o meu olhar
Teus olhos nus, raios de luz no azul do mar
Meu coração, que sempre quis acreditar
Bateu feliz, foi só você chegar
Sei que a paixão apaga o chão, rareia o ar
Ser e não ser, negar, querer, fugir, ficar
Mas não fui eu quem quis assim
Aconteceu você pra mim
E eu não vou negar o que o acaso quis pra nós
A chama desse amor me faz
Sorrir cantar, te quero mais
Te chamo só pra repetir "te amo"
Mas não fui eu quem quis assim
Aconteceu você pra mim
E eu não vou negar o que o acaso quis pra nós
A chama desse amor me faz
Sorrir cantar, te quero mais
Te chamo só pra repetir "te amo""
Raios de luz - Simone