Arlindo Cruz faz hoje 59 anos mas, infelizmente, não irá poder comemorar pois continua hospitalizado desde março, quando sofreu um acidente vascular cerebral.
Tem sido incrível a onda de solidariedade que insiste em desejar a rápida e plena recuperação do bamba mais bamba dos bambas.
Alô Madureira!
Há uns meses começou a adivinhar-se algo deste género. Nas redes sociais, os três companheiros deste projeto, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, começaram a aparecer juntos apesar da sua intensa agenda individual. E de repente, do nada, fazem um live no Facebook e apresentam os 4 primeiros temas do disco.
Este trabalho está em linha com o anterior e, pelo menos desse ponto de vista, não surpreende, no entanto, é um trabalho de grande bom gosto e qualidade que traz muitas emoções a todos os fãs deste maravilhoso projeto.
A principal novidade, na minha opinião, tem a ver com Portugal pois inclui a participação da cantora portuguesa Carminho que está cada vez com maior reputação no outro lado do Atlântico. A sua amizade e cumplicidade com a Marisa já tem algum tempo e, depois de lançar um disco interpretando Jobim, nada mais relevante que ser a única outsider a participar neste projeto. Ouçam e façam como eu, ouçam mais vezes.
No passado sábado recebi a triste e dolorosa notícia da morte do Mestre Wilson das Neves. Confesso que há muitos anos que tenho uma enorme admiração por este gigante artista. Baterista, cantor, ritmista e compositor, wilson é uma figura de destaque no samba e na na sua escola do coração, a Império Serrano. A sua morte é mais uma grande perda mna música brasileira e, em particular no samba que já perdeu, este ano, Amir Guineto, Luiz Melodia e sofre profudamente com o estado em que se encontra o grande Arlindo Cruz há vários meses.
Conheci-o tarde, musicalmente, graças à sua participação na maravilhosa Orquestra Imperial onde o Mestre era, naturalmente, o avó deles todos e, ao mesmo tempo, aquele que denotava ser a maior criança devido ao seu jeito traquina e sempre brincalhão.
Consegui conhecê-lo pessoalmente, estive a conversar brevemente com ele duas vezes e cheguei a assistir a um concerto dele aqui em Lisboa onde tirei a foto que está aqui.
O Mestre embirrava solenemente com o barulho de conversa nos seu shows e não perdoava, chamava a atenção de quem o fazia e mandava calar com o seu jeito malandro e provocador próprio de quem é carioca da gema e que nunca será mané.
Compôs com o seu companheiro de composição, Paulo César Pinheiro, lindos sambas que depois interpretou mas também trabalhou com outros monstros, nomeadamente, Aldir Blanc, Moacyr Luz e tocou, como baterista, na banda do Chico Buarque durante mais de 30 anos, desde 1982. É seu e de Paulo César Pinheiro o lindo samba "O samba é meu dom" que ele próprio popularizou e tinha um hábito nos seus shows que segui escrupolosamente, em cada música que cantava, antes, apresentava os respetivos autores demonstrando um respeito e uma admiração genuína por quem cria coisas bonitas.
Sei de diversas estórias hilárias da sua pessoa, o que aumentava ainda mais a sua aura de atração, a última foi-me contada por um amigo próximo que quer muito de reeditar um dos primeiros trabalhos do Mestre como solista, o segundo acho, que se chama "Som quente é o das Neves" e falou pessoalmente com ele para lhe solicitar autorização. Resposta do Mestre, "Meu filho para que é que você vai fazer isso?! Esse disco é uma merda!"
Vai deixar muitas saudades mas o seu som quente vai continuar a tocar pois som quente é o seu, Mestre! Mas, infelizzmente, desde sábado, vai ficar faltando você, Mestre Wilson.